Machado de Assis: um intérprete da vida
Se as civilizações milenares da Europa e do Oriente têm muito a dizer por meio da pena inspirada de seus escribas, o nosso país, com seus 525 anos, não deve se intimidar. Temos nossas antologias. Neste episódio, o Brasil Cultural exibe, cheio de reverência, fatos e curiosidades da vida e obra de Joaquim Maria Machado de Assis. Saiba mais na transcrição.
16/05/2025
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Os clássicos não envelhecem nem morrem. Tal sabedoria permeia o tempo e é repetida sempre que alguém percebe a luta inglória dos séculos contra as obras imortais. Os anos passam, e elas ganham ares novos, sem que ninguém as altere.

Quem se atreveria a mexer em uma palavra sequer do “Dom Quixote”, de Cervantes, ou da Odisseia, de Homero? Os moinhos continuam girando, e as sereias não param de cantar. Os símbolos só pedem bons intérpretes — mentes lúcidas que não confundam metáforas com os elementos do universo tangível.

No concerto dos povos, todas as etnias acenderam archotes para contribuir com os clarões da literatura. Letras filosóficas, poéticas, religiosas, políticas, romanescas e científicas saíram das mais diversas classes e credos, para que a humanidade não perdesse o endereço da própria história, nem a capacidade de imaginar, inventar, sonhar...

A modernidade tem caráter transitório. Logo à frente, vem algo mais jovial e substitui a última atualização. O livro, porém, está marcado pelo dom da perenidade. Tudo passa. Ele fica. Não por causa do papel ou dos suportes digitais. A razão é outra, mais sutil e, às vezes, quase imponderável. Pertence ao plano das ideias. Atua como uma força dinâmica que fecunda, exorta, soergue e educa.

Sem dúvida, há livros que são escárnios, advogam contra a vida, e talvez uma voz indignada brade: “jamais deveriam ter sido escritos”. No entanto, não há como censurá-los na fonte, pôr sentinelas na consciência alheia. O fanatismo e a barbárie são superados quando visões humanistas perpassam o espírito dos povos.

Antar, na Arábia; Tagore, na Índia; Khalil Gibran, no Líbano; Victor Hugo, na França; Tolstói, na Rússia — e tantos outros autores notáveis — fizeram com que suas verves artísticas abrilhantassem este mundo faminto em duas instâncias: uma absolutamente imediata, a do corpo, e outra mais etérea, pois pertencente à ordem do ideal.

Sim, meus amigos, os clássicos vivem. Falam, com vívida emoção, dos dilemas humanos. Há neles uma profundidade que rareia nos dias presentes. Se as civilizações milenares da Europa e do Oriente têm muito a dizer por meio da pena inspirada de seus escribas, o nosso país, com seus 525 anos, não deve se intimidar. Temos nossas antologias. Neste episódio, o Brasil Cultural exibe, cheio de reverência, fatos e curiosidades da vida e obra de Joaquim Maria Machado de Assis.

Venham com a gente: "Dom Casmurro" está bem na esquina e nos espera. Tem muito a dizer.

Ricardo Walter