Jorge Amado: uma radiografia do Brasil
Jorge Amado nasceu no dia 10 de agosto de 1912. Sua vasta obra foi traduzida para quase 50 idiomas. Ao redor do mundo, o autor baiano conquistou prêmios literários importantes como Latinidade, na França; Pablo Neruda, na Rússia; Mediterrâneo, na Itália, e Luiz de Camões, em Portugal. No Brasil, foi condecorado com o Troféu Jabuti em duas oportunidades.
23/05/2025
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O orgulho nacional costuma levar as pessoas ao equívoco de analisar o país por meio do cartão-postal, sem jamais observar o raio X das estatísticas e das ruas. Os que agem assim optam por outro mundo — o “da lua” —, onde prevalecem as fantasias. A radiografia da “vida como ela é”, não raro, causa aversões e impactos psicológicos.

Há também os ufanistas às avessas — aqueles que só observam os defeitos da nação e, se pudessem, teriam escolhido nascer em outras paragens e falar idiomas que não o nosso. Esses engrossam as fileiras que amam o Brasil por meio de símbolos e, ao mesmo tempo, querem distância do povo.

Nesses dois pontos de vista, aparece o traço característico do exagero. Falta o equilíbrio. Bom senso que vemos na obra de Jorge Amado. O autor brasileiro mais lido do século XX soube apreciar as belezas da Baía de Todos-os-Santos sem ignorar a penúria das crianças abandonadas e, assim, nasceu “Capitães da Areia”. Jorge também repetiu os encantos de Pero Vaz de Caminha (o cronista de 1500) ao descrever os prodígios de uma terra fértil. A riqueza do solo, contudo, não o fez dar de ombros para o país dos coronéis. Desse modo, surgiu “Gabriela, Cravo e Canela”.

A literatura amadiana não fez excursões pelas estrelas. Se tivesse nascido em algum principado, talvez o autor optasse por passear pelas avenidas de um cenário abstrato. Todavia, ele bateu na porta do mundo e escolheu a cidade de Itabuna (BA) como berço. Alguns observadores da vida conseguem ver as entranhas de um país inteiro a partir da própria aldeia. Dentro dessa categoria de homens, está Jorge Amado.

Aos seus olhos, passou o Brasil que sofre e, ainda assim, encontra forças para produzir a sofisticada cultura popular. É ou não é uma “Tenda dos Milagres”?

Ricardo Walter