Ariano Suassuna: um erudito popular
O Brasil Cultural homenageia um craque das letras que soube valorizar as belezas da própria terra sem perder a universalidade.
04/07/2025
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06:22
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Imaginem, vocês, que uma personalidade (de nome não revelado) foi convidada para falar ao grande público. A expectativa cresceu. Ficou gigante. Um vozerio dominou os corredores. Todos queriam saber de quem se tratava. Alguns se lançavam ao serviço de adivinhação: “aposto que é...”. Os organizadores do evento faziam segredo e, dando voltas ao mundo, começaram a enumerar as características do visitante.

Perspicaz. Engraçado. Irônico. Magistral.

Os adjetivos, escolhidos a dedo, aguçavam ainda mais a curiosidade. Se os anfitriões não fossem dados a exageros, realmente, a figura esperada era pessoa admirável, dessas que rareiam por aí.

A apresentação poderia ser mais comedida, formal. Bastaria dizer que o palestrante uniu em um mesmo traço psicológico a verve do professor, do dramaturgo, do poeta, do artista plástico. Mesmo assim, as pessoas não poderiam ter a devida precisão ao afirmar – “é fulano de tal”.

O mistério, entretanto, cairia por terra se alguém levantasse a voz sem rodeios: “o convidado de hoje vai dar uma aula-espetáculo”. Pronto. Ou melhor: pois bem. Os mestres são conhecidos por suas marcas registradas. Primeiro vem o selo de qualidade da obra, peneirado pelo crivo do tempo; depois, e só depois, surgem as honras à individualidade.

Certa vez, o genial Carlos Drummond de Andrade afirmou que “o difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”.

Parafraseando o poeta, o Brasil Cultural não titubeia ao grafar que difícil não é rodar um país inteiro dando aulas. Formidável mesmo é transformá-las em espetáculos de cultura para satisfazer as necessidades do povo. Por isso, e muito mais, puxamos a cadeira para Ariano Suassuna, em nosso singelo palco.

No dia 23 de julho de 2014, o escritor cumpriu a sua sentença na cidade do Recife. "Encontrou-se com o único mal irremediável". O último ato, no entanto, está longe de ser concluído. A obra, sempre viva, ainda tem muito o que fazer pelo Brasil.

Ricardo Walter