04/07/14 - Reunião dos BRICS com o Emb/ Flavio Soares Damico
12/12/2016
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APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Olá você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora mais um programa Brasil em Pauta. O programa tem a produção e a coordenação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em parceria com a EBC Serviços. Hoje no Brasil em Pauta contamos com a presença do embaixador Flávio Damico. Bom dia, Embaixador.

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom dia, Luciano. É um grande prazer estar aqui com você.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Prazer recebê-lo aqui no Brasil em Pauta. No programa de hoje, vamos conversar sobre a VI Cúpula do Brics que será realizada em Fortaleza e Brasília nos dias 14, 15 e 16 de julho, com a participação dos líderes dos cinco países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O Embaixador Flávio Damico é responsável pelo Brics no Palácio do Itamaraty e estará conversando com ancoras de emissoras de rádio de todo o país. Mas para começar, embaixador, vou fazer aquela pergunta geral: Qual é a expectativa com essa VI Cúpula do Brics?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom, o Brasil estará... Logo imediatamente depois do último apito da Copa do Mundo, o Brasil vai continuar em evidência e no centro dos interesses internacionais, pois vamos sediar a VI Edição do Encontro dos Líderes dos Brics. Será a segunda vez que o nosso país estará sediando essa Cúpula, a primeira vez foi em 2010, na cidade de Brasília, dessa vez o nosso encontro vai se desdobrar em Fortaleza e também em Brasília. Ao longo desses cinco anos anteriores, os países do Brics, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, iniciaram o processo de coordenação que se desdobra em vários níveis. O primeiro grande nível é a coordenação nos grandes foros da governança internacional, nas instituições de Bretton Woods e no sistema das Nações Unidas. O segundo nível de atuação conjunta diz respeito ao processo de cooperação entre os países dos Brics. Então, ao longo desses cinco anos uma série de atividades veio amadurecendo, que vão culminar agora na V Cúpula, com a perspectiva da assinatura de dois tratados importantes, um criando o novo Banco de Desenvolvimento do Brics e o outro criando um instrumento chamado Arranjo Contingente de Reservas. Esses são os dois resultados mais salientes da Cúpula. Além disso, nós vamos nessa ocasião definirmos toda uma programação de encontros que vai se desdobrar ao longo do período 2014/2015.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Perfeito. E já temos participação, Embaixador. Vamos à Pato Branco, no Paraná, da Rádio Celinauta, fala Edson Honaiser. Alô, Edson, bom dia.

REPÓRTER EDSON HONAISER (Rádio Celinauta/Pato Branco - PR): Bom dia, bom dia a todos, bom dia embaixador. Que números nós temos sobre inclusão social? Evidentemente, alguns números do nosso país serão apresentados. Que números já temos para adiantar ao nosso ouvinte, ao nosso telespectador a respeito da inclusão social no nosso país e que, evidentemente, virão à tona nesse evento?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom dia, Edson. De fato, nesse encontro o tema escolhido para o debate entre os líderes será crescimento inclusivo, soluções sustentáveis. A ideia na intervenção pública dos líderes dos Brics é que eles sublinhem as realizações em seus países em termos de inclusão social. Como você sabe, a contribuição dos países do Brics para o alcance das metas de desenvolvimento do milênio foi muito importante, por força de dois caminhos distintos. Em alguns países dos Brics, você teve políticas de inclusão social desenvolvidas pelos governos, que foi o caso do Brasil, enfim, os números aqui são relativamente bem conhecidos e foram sublinhados pela Presidenta e também por várias autoridades governamentais a respeito do que se conseguiu em termos de redução da pobreza. Enfim, nós podemos dizer que hoje os números de pobreza relativa no Brasil são muito baixos, menos de 13,5% da população, e isso está em linha com os números definidos pelas instituições internacionais como sendo considerados como de erradicação plena da pobreza. A outra vertente de contribuição dos Brics para a inclusão social é pela forca do crescimento das suas economias, em particular, a economia chinesa que tem sido considerada um dos grandes motores da economia mundial. Nos últimos dez anos, se estima que por força da transferência de população rural para as cidades para trabalhar nas indústrias mais de 400 milhões de pessoas tenham sido extraídos na China na pobreza rural. E, além disso, tem o efeito de empuxo das economias dos Brics sobre as economias de outros países em desenvolvimento, como é o caso da África. Então, como você vê, e obviamente tudo isso vai ser tratado em maior nível de detalhe pelos líderes nas suas intervenções, há um modelo de desenvolvimento dos Brics que é voltado não apenas a um bom desempenho econômico, mas também a melhoraria da situação social das populações de seus países e de outros países, isso tudo é uma contribuição extremamente importante dos nossos países, que nem sempre é sublinhada com a importância devida.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Edson Honaiser, da Rádio Celinauta, alguma outra pergunta?

REPÓRTER EDSON HONAISER (Rádio Celinauta/Pato Branco - PR): Olhos voltados principalmente de forma específica para alguma determinada região do nosso país?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Nós vamos procurar dar, enfim, uma visão do conjunto, mas, obviamente, nós sabemos muito bem que a redução mais importante da pobreza no nosso país se deu no Norte e Nordeste. Os dados, por exemplo, do Índice de Desenvolvimento Humano apontam uma evolução absolutamente sensacional no Brasil do ano 2000 até hoje, e com a redução do número de cidades que estão abaixo do índice de desenvolvimento inferior. Então, obviamente, como eu disse, os dados em detalhes serão apresentados na ocasião, mas todos eles apontam, sem dúvida nenhuma, em uma mesma direção de um progresso transversal, enfim, em todos os segmentos da população brasileira, mas obviamente, alguns setores, justamente aqueles mais carenciados foram aqueles em que obtivemos melhor resposta.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Edson, alguma outra pergunta?

REPÓRTER EDSON HONAISER (Rádio Celinauta/Pato Branco - PR): Seria isso. Um forte abraço. Bom dia a todos.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Muito obrigado pela participação. Embaixador, o senhor fez referência logo no início do programo a criação, que talvez fosse das mais importantes ações dessa Cúpula, a criação de um banco de desenvolvimento comum aos países. Aqui no Brasil, nós temos o BNDES, conhecido de pequenos e até grandes empresários e de grande parte da população. O BNDES pode contribuir de maneira efetiva na participação desse Banco de Desenvolvimento do Brics?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Ah, com certeza. Enfim, não apenas no Brasil, mas também nos demais países dos Brics, nós temos bancos de desenvolvimento talhados no estilo do BNDES, e esses bancos têm um ação importante como indutores do desenvolvimento econômico com o apoio às empresas nacionais, e também a projetos de desenvolvimento. Essas experiências nacionais, sem dúvida nenhuma, orientarão as políticas do novo Banco de Desenvolvimento do Brics quando ele vier a ser criado.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Como é que ficará... É claro que talvez seja muito cedo, mas é inevitável essa pergunta, as diferenças econômicas, como é que ficarão, como é que serão ajustadas dentro desse Banco de Desenvolvimento, inclusive com grandes diferenças financeiras monetárias, não é, do próprio dinheiro de cada país?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Enfim, o processo de criação do Banco de Desenvolvimento do Brics foi relativamente longo. A primeira vez que a ideia foi aventada foi em 2012, na Cúpula da Nova Délhi, naquela ocasião, os líderes instruíram os ministros da Fazenda a iniciarem estudos sobre a viabilidade do banco, e já traçarem também qual seria o seu modelo de funcionamento, seu modelo de governança. Nós tínhamos presentes à circunstância de que há outros bancos multilaterais de desenvolvimento, Banco Mundial, entre outros, e sabíamos muito bem que seria o caso também de buscarmos ir adiante dos modelos já existentes. Então, desde muito cedo ficou evidenciado que era importante que esse banco do Brics viesse a ter a propriedade de todos os seus membros, então se busca com isso que a participação de todos eles no banco seja paritária. Então, enfim, não se levaria, enfim, em conta o fato de que algumas economias dentro dos Brics são maiores do que outras, em realidade, a economia chinesa hoje é maior do que a somas das outras quatro, sendo o Brasil a segunda maior economia do mecanismo. Também buscamos nesse processo de criação do banco, enfim, levar em conta a necessidade de que não apenas os países dos Brics, mas os demais países em desenvolvimento têm necessidades não atendidas na área de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, esse vai ser um banco que vai atuar muito especificamente em um determinado nicho de mercado. Ele não pretende ser uma alternativa completa aos outros mecanismos existentes; ele complementa e suplementa o fornecimento de crédito para um determinado segmento de mercado.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Naturalmente agiria em conjunto com os bancos de desenvolvimento individuais, não é, de cada um dos membros?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Com os bancos nacionais, com certeza. Mas obviamente, enfim, por vezes do ponto de vista das relações internacionais é mais interessante para um país se apresentar com um mecanismo, enfim, plurilateral, no caso dos Brics, do que nos seus próprios mecanismos nacionais, enfim, porque você passa, enfim, ao investir em um país você passa a fazer parte também do contexto político daquele país. Em bancos plurilaterais, essa singularidade ela fica mais diluída e isso, enfim, traz ganhos para todos.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Já que o senhor fez referências às relações internacionais, qual é a agenda comum dos Brics para os desafios da política internacional atual?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Os Brics nasceram de uma noção muito simples, as grandes instituições da governança internacional do sistema econômico financeiro e do sistema político foram todas criadas em 1945, nas cinzas da Segunda Guerra Mundial, eles refletiam uma estrutura de poder e congelaram uma estrutura de privilégios que era então vigente. Desde então muita coisa mudou no mundo, a participação dos Brics na economia mundial ficou muito acrescida, então, você tem um cenário de diluição de poder e você tem um descompasso entre a estrutura que está plasmada nessas instituições e a realidade. Nós buscamos, fundamentalmente, reformar incrementalmente as instituições para que elas reflitam de melhor modo a atual realidade.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Trabalho gigantesco, não é?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: E você não pode imaginar que o outro lado aceite isso com passividade.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Perfeito. E ainda falaremos sobre isso. Você está acompanhando o programa Brasil em Pauta. Hoje com o embaixador Flávio Damico, que conversa ao vivo com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. E agora temos a participação da Rádio Bandeirantes, de São Paulo, com Willian Cury. Alô, Willian, bom dia.

REPÓRTER WILLIAN CURY (Rádio Bandeirantes/São Paulo - SP): Olá, muito bom dia. Bom dia ao embaixador Flávio Soares Damico. Embaixador, minha primeira pergunta é sobre o fundo dos Brics. Já foi aprovado, já foi assinado à criação desse fundo, e para que vai servir esse chamado Fundo dos Brics?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom dia, Willian. Enfim, todos os tratados serão assinados por ocasião da Cúpula, em Fortaleza, no caso específico dos tratados de criação do banco e esse novo fundo que nós chamamos de Arranjo Contingente de Reservas, um nome relativamente complicado, vão ser assinados no dia 15, perante os presidentes. Nós estamos finalizando o processo de negociação desses tratados, houve recentemente uma reunião em Melbourne com os vice ministros de finanças dos cinco países que praticamente cortaram os "T"s e colocam os pingos nos "i"s nos últimos artigos do tratado, que agora está passando pela fase que nós chamamos, a fase de consultorias jurídicas para que, enfim, não haja nenhuma surpresa de última hora. Então, esse tratado, como eu dizia, será assinado no dia 15, e a peculiaridade dele é que ele é uma instituição que espelha em alguma medida o funcionamento do fundo monetário internacional, enfim, seria um fundo monetário internacional em miniatura voltado apenas para os países dos Brics. E qual é o princípio do funcionamento dele? De que esses países se auxiliariam mutuamente em caso de eventualmente enfrentarem uma dificuldade de balanço de pagamento. Isso é uma recorrência comum aqui no passado no Brasil, mas que hoje felizmente se afigura muito pouco provável. Então, na eventualidade de um país precisar de ajuda de liquidez internacional, ele poderá ter acesso à sua cota no fundo de acordo com o nível de exigência e eventualmente com algumas condicionalidades. Mas a ideia é basicamente que, antes de recorrer aos mecanismos multilaterais de ajuda, os países dos Brics poderão recorrer entre si.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Willian Cury, alguma outra pergunta?

REPÓRTER WILLIAN CURY (Rádio Bandeirantes/São Paulo - SP): Agora sobre o Banco de Desenvolvimento. A que vai servir... A quem vai servir esse mecanismo e quais serão os critérios adotados para ajudar, por exemplo, um país e não ajudar outro?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Obrigado, Willian, boa pergunta. O banco é um banco de projetos, ou seja, ele vai financiar projetos. Aonde? Inicialmente nos países que forem membros do banco. O acordo de sua criação será inicialmente assinado pelos cinco países dos Brics, mas o acordo estará aberto à adesão de outros países, aqueles países que aderirem ao banco poderão tomar empréstimos em condições similares àquelas oferecidas aos países dos Brics. Então, eu imagino que nos primeiros anos de seu funcionamento, o foco do banco será para empréstimos no âmbito dos próprios Brics, mas crescentemente nós estaremos também repassando recursos para aqueles países que houverem por bem se associar ao banco.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: William Cury da Rádio Bandeirantes, alguma outra pergunta?

REPÓRTER WILLIAN CURY (Rádio Bandeirantes/São Paulo - SP): Não. Eu estou satisfeito. Queria parabenizar o embaixador, diretor do departamento de Mecanismo Inter-regionais, responsável pelo Brics no Brasil, Flávio Soares Damico. Obrigado.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Nós agradecemos a sua participação. E agora contamos com a Rede Brasil, participando de Recife, Pernambuco, Élida Régis. Alô, Élida, bom dia. Jô? Jô Araújo então está conosco. Alô, Jô, bom dia. Alô, Jô, bom dia. Bom, daqui a pouquinho refaremos o contato então com a Rede Brasil de Recife, Pernambuco, participando aqui no programa Brasil em Pauta, que tem a coordenação e a produção da Secretaria de Comunicação Social da presidência da República em parceria com a EBC Serviços. A EBC Serviços disponibiliza o sinal desta entrevista para todas as emissoras de rádio do país, via satélite, no mesmo canal de A Voz do Brasil. O áudio da entrevista também é disponibilizado hoje ainda, na página da EBC Serviços na internet, em www.servicos.ebc.com.br. Embaixador, falamos agora a pouco da agenda, do desafio político internacional que representa o Brics. Existe uma agenda comum do Brics no âmbito financeiro?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Sim. Essa agenda financeira, ela se espelha na atuação conjunta dos nossos países no âmbito do G20, que é esse... Enfim, esse mecanismo informal em que as maiores economias do mundo se coordenam para tratar da situação econômica financeira internacional. Como você sabe, o G20 surgiu na esteira da crise de 2008 do Lehman Brothers, em que houve realmente um grave pane na economia internacional com a paralisia do sistema financeiro, e foi o G20 com a sua ação emergencial que pode atacar esse problema. Dentro do G20, o Brics é um grupo muito unido e que atua em perfeita sintonia. Então, entre as suas grandes realizações se encontra a reforma de 2010 das cotas do Fundo Monetário Internacional que fazem com que... Que até então não refletiam exatamente o peso econômico dos Brics. Então, para você ter uma ideia, o Brasil tinha cotas menores do que países pequenos da Europa. Então, a partir de 2010 se fez essa reforma, mas que infelizmente ainda não foi implementada, porque o Senado norte-americano não a coloca em votação. Então isso se reflete um pouco naquilo que nós dizíamos anteriormente, que às vezes existem resistências, enfim, incompreensíveis para nós. E esse ponto será um daqueles que vai ser sublinhado na declaração conjunta que os líderes firmarão em Fortaleza, que também é um dos resultados concretos da Cúpula, em que novamente nós vamos manifestar a nossa estranheza e preocupação com o fato de que algo que já foi objeto de acordo entre os executivos não tenha ainda sancionado pelos parlamentos.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Perfeito. Voltamos a contar com a participação agora da Rádio Nacional AM de Brasília, com Valter Lima. Alô, Valter, bom dia.

REPÓRTER VALTER LIMA (Rádio Nacional AM de Brasília/Brasília - DF): Olá, Luciano. Bom dia também para você, bom dia também ao Dr. Flávio. Eu pergunto ao Sr. Embaixador, onde tem água, terra e floresta com certeza é possível desenvolver políticas públicas e desenvolver também a sustentabilidade. Só que existem pessoas vivendo em áreas onde a água é escassa, a terra é improdutiva e a floresta foi destruída. Como é o desafio para garantir a sobrevivência dos que habitam desses espaços?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom, obviamente, enfim, esse é um tema central e importante, Valter, mas que é tratado no âmbito das políticas nacionais. Como a ação do Brics efetivamente, um dos temas em que os nossos países comungam de posições comuns é a área de desenvolvimento sustentável e nós temos uma participação muito efetiva nas discussões internacionais sobre o tema, e também levando adiante políticas nacionais em termos de mitigação, de efeitos de mudança climática e também de contenção dos desflorestamentos e da melhoraria da situação das pessoas que vivem em regiões agrícolas pouco produtivas. O foco do tratamento desse problema é, como eu dizia anteriormente, eminentemente nacional. Em temos de ação futura dos Brics, nós podemos imaginar que uma das linhas de financiamento do banco possa ser destinada a projetos na área de desenvolvimento sustentável e aí, com isso, enfim, termos uma contribuição coletiva do mecanismo para melhoraria da situação das pessoas que vivem nessas regiões.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Alguma outra pergunta, Valter Lima?

REPÓRTER VALTER LIMA (Rádio Nacional AM de Brasília/Brasília - DF): Pois não, Luciano. Ainda nesse contexto dos bancos que o senhor citou, embaixador, uma vez estabelecido, como será a estrutura, então, desse novo Banco de Desenvolvimento, ou seja, a origem dos seus recursos, a forma de buscá-los e as regras para pagá-los? E mais, que defesa os países que compõem o Brics esperam ter com a criação do... Ou seja, do arranjo contingente de reserva?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Muito bem, Valter. Quanto ao banco, enfim, nós vamos assinar em Fortaleza, também no dia 15, o acordo que o cria. Esse acordo... Além do acordo, serão também rubricados os estatutos do banco que vão dizer as suas principais características de governança, por exemplo, como vai ser dar a rotação entre as presidências e também como será a repartição do capital do banco. Enfim, em linhas gerais, o banco tem o capital autorizado de US$ 100 bilhões. O capital inicial, ou seja, aquele com que ele vai começar a trabalhar será de US$ 50 bilhões, e esse capital vai ser integralizado inicialmente no montante de US$ 10 bilhões. Ou seja, US$ 10 bilhões de serão depositados em espécie, os restantes, US$ 40 bilhões, serão garantias que os países oferecerão. Uma vez assinado o acordo pelos executivos, nós vamos ter um processamento legislativo em cada um dos países, sendo um acordo internacional, ele necessariamente deve ser aprovado pelos parlamentos. Uma vez aprovado pelos parlamentos, cada parlamento deverá aprovar os créditos fiscais para que sejam feitos os aportes para esse banco. A nossa expectativa é que o banco, enfim, esses US$ 10 bilhões sejam divididos em cinco cotas iguais de US$ 2 bilhões e aí nós vamos ter um prazo para que esses pagamentos venham a ser feitos. Nesse período em que o banco tiver sido criado, o seu comitê inaugural vai buscar definir quais serão as suas políticas, como definir por que um projeto é melhor que o outro, quais são as áreas prioritárias de atuação, todos esses detalhes operacionais do banco vão ser desenvolvidos ao longo do tempo durante esse período de criação, ou seja, tendo secado a tinta da assinatura do acordo no dia 15, isso não quer dizer que no dia 16 você tenha lá uma janelinha colocada para as pessoas irem tomar empréstimos do banco, você deve ter um período aí, que eu diria prudencialmente, deva ser de um a dois anos em que você vai adotar todos esses procedimentos que sejam necessários para torná-lo operacional. Quanto a sua outra pergunta, sobre o arranjo contingente de reservas aqui na nossa gíria aqui, você sabe que nessa área internacional todos nós adoramos siglas, é o CRA, em realidade, ele é a própria garantia que os Brics dão a si mesmos, é uma indicação da sua independência e da sua autoconfiança na sua capacidade financeira. Então, em realidade, ele não... Nós não precisamos de mais garantias, a nossa própria garantia é a nossa palavra e a força das nossas economias, que é o motor da... Enfim, da economia internacional.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: E agora, no programa Brasil em Pauta, contamos com a participação da Rede Brasil de Recife. Refizemos o contato e vai falar conosco Jô Araújo. Bom dia, Jô.

REPÓRTER JÔ ARAÚJO (Rede Brasil de Recife/Recife - PE): Muito bom dia. Muito bom dia também embaixador Flávio Soares. Bom, ao longo de 2009 para cá, quais são os avanços, as conquistas obtidas com a união desses países, embaixador?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom dia, Jô. Enfim, ao longo desse período, não é, enfim, esse grupo foi crescendo e se fortalecendo. Como eu já mencionei aqui com respeito a uma pergunta anterior, no âmbito da coordenação internacional o resultado mais saliente foi justamente a reforma das cotas do fundo monetário internacional e a reforma do banco mundial, esses dois desenvolvimentos responderam à pressão direta e efetiva dos países dos Brics. Adicionalmente, nós vamos ter a assinatura desses dois tratados agora, em 2014, que também representam resultados concretos. Em paralelo, aumentou muito a interlocução e a interação entre os nossos países com maior conhecimento entre os líderes e entre os setores relevantes da nossa sociedade. É importante a gente ter presente que o Brics não se limita apenas a um esforço intergovernamental, nós também temos uma ação importante em termos de aproximação das sociedades e de incremento dos contatos pessoa a pessoa. Desde 2010, na Cúpula do Brasil, se criou o foro empresarial dos Brics, que é destinado à que os homens de negócio dos cinco países se conheçam mais e possam desenvolver o comércio e os investimentos entre nossas economias, e isso se reflete já de imediato na nossa própria balança comercial. A China, um dos membros do Brics, é o segundo maior parceiro comercial do país, atrás da União Europeia, que em realidade não é só um país, são vários outros países. Adicionalmente, nós desenvolvimento 30 áreas de cooperação entre os nossos países, enfim, abrangendo os mais diferentes setores: Saúde, agricultura, ciência e tecnologia, entre outros.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Alguma outra pergunta, Jô?

REPÓRTER JÔ ARAÚJO (Rede Brasil de Recife/Recife - PE): Mais uma pergunta, Luciano. Bom, acontece a partir da próxima semana a IV Cúpula dos Brics, qual é a repercussão, então, no cenário internacional, sendo o Brasil o anfitrião desse encontro?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Enfim, basta você dar uma vasculhada rápida, ou na internet, ou na própria imprensa internacional e você vê, enfim, o interesse que vem sendo despertado por essa Cúpula e em particular pela criação desses dois instrumentos financeiros, se você olhar o Financial Times, o The Economist, todos eles já indicam, enfim, um interesse em saber exatamente que animal novo é esse que vai ser criado, esse banco, e esse arranjo, que repercussões eles terão sobre a governança financeira internacional. O fato é que a imprensa internacional, ela tem um olhar normalmente um pouco, enfim, guiado pelo ciclo de notícias que é necessariamente um pouco superficial e tende a colocar as coisas mais ou menos preto no branco, ou seja, você é relevante e tem impactos imediatos ou então nada disso é relevante. O tempo da diplomacia é um tempo bastante mais lento, enfim, as coisas custam a maturar, especialmente no caso de cinco países que são muito grandes, a analogia que você pode fazer é aquela do transatlântico, para ele começar a virar, você tem que iniciar as manobras muitos quilômetros antes, então para que você chegue a esse bom resultado em 2014, você teve que trabalhar de 2009 até hoje, e é por isso que, enfim, as pessoas às vezes não percebem bem todo o trabalho de bastidores que é levado adiante. A outra razão pela qual especialmente a grande imprensa internacional vê com um pouco de desconfiança o Brics, é porque eles não entendem muito bem que mensagem é, eles não entendem se é algo que realmente desafia um predomínio do norte desenvolvido ou se é uma força positiva. A nossa percepção é de que é necessariamente uma força para o bem, uma força para atualização do sistema internacional, enfim, e que reflita, ao mesmo tempo, o crescimento da multipolaridade e multipolaridade quer dizer, em última instância, em ter interdependência entre os nossos países, porque se o poder é menos concentrado todos dependem de todos.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Perfeito. Jô, alguma outra pergunta?

REPÓRTER JÔ ARAÚJO (Rede Brasil de Recife/Recife - PE): Uma outra pergunta aqui. Com relação essa parceria, cooperação entre esses países que formam o grupo dos Brics dentro dessas 30 áreas distintas, qual é a área mais interessante que tem despertado maior interesse para o Brasil?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Enfim, todas as áreas são igualmente importantes, enfim, seria difícil singularizar uma delas. Eu diria que talvez uma que esteja mais bem avançada seja a área de ciência, tecnologia e inovação em que nós vamos proximamente numa reunião ministerial, que vai ser sediada pelo Brasil, assinar o memorando de entendimento definindo melhor às áreas e vertentes de cooperação que vão ser levadas adiante pelos cinco países.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: A gente agradece a participação da Rede Brasil de Recife aqui no programa Brasil em Pauta, que hoje recebe o Embaixador Flávio Damico, nosso convidado no programa Brasil em Pauta, que é transmitido pela EBC Serviços. Embaixador, o senhor fez referência agora aos cinco que são cinco países grandes. Eu me recordo que quando da criação do Brics havia um comentário de que também eram cinco países muito diferentes, como é que poderiam se unir num grupo único? Quer dizer, isso embutia naturalmente uma crítica, sabe-se lá com que intenção. Mas hoje a pergunta que se faz, a presença da China, que continua sendo um motor da economia mundial muito forte, não desequilibra um pouco esse grupo, pelo menos do ponto de vista econômico e financeiro?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Muito boa pergunta, Luciano. De fato, inicialmente, o grupo era visto com suspensão, "Ah, são animais diferentes que, enfim, não cabem na mesma jaula". A questão é que a jaula é distinta, nós não precisamos, para você ter um grupo efetivo, que comungar exatamente das mesmas percepções, você tem uma distinção entre o que se chama bloco. Bloco é um tipo de associação em que os países realmente comungam de mesmos ideais e têm que se coordenar em uma série de temas. Por exemplo, o Mercosul é um bloco econômico, uma zona, uma união aduaneira, então, obviamente você tem que ter uma política comercial comum, isso requer um nível de interpenetração entre os países, de sintonia muito forte. Uma coalizão, que é o caso do Brics, você não necessariamente precisa ter concordância em todo o espectro de temas, você escolhe, você elege aqueles temas em que você tem maiores afinidades. Então é isso que o Brics fez ao longo desses cinco anos, nós fomos, enfim, nos conhecendo e nos testando e elegendo aquelas áreas nas quais nós temos percepções comuns e achamos que podemos um conjunto fazer a diferença. Então, obviamente, as áreas em que talvez não nos olhemos de modo igual, em que não estamos na mesma página, essas áreas são deixadas de lado e não há nenhum sofrimento com isso. Então, nós temos que ter a noção de que o Brics é um mecanismo eminentemente pragmático. Você traz aqui a minha consideração a questão da China. A China realmente é um país enorme, com enorme potencial e que rapidamente vem fechando a brecha que o separava do mundo desenvolvido, enfim, acho que rapidamente em um ritmo sem precedentes. A China é um desafio não apenas para os próprios Brics, mas para toda a humanidade, é um país que tem um potencial enorme e obviamente ele tem impactos de monta, não é, enfim, você se lembra bem da famosa frase do Napoleão, enfim, "Deixem a China dormindo, porque quando ela se acordar o mundo tremerá", então, de fato traz essa questão. Mas no âmbito do Brics, nós atuamos, enfim, fundamentalmente com base no consenso. Enfim, um país, um voto, e sem que haja consenso entre todos nós não se evolui em uma determinada área de cooperação, e isso tem funcionado bastante bem, os chineses têm sido parceiros muito bons no âmbito do Brics, têm contribuído de modo muito interessante e basicamente porque eles percebem que o Brics representa uma dimensão adicional da sua política externa. Se você olhar a China, ela tende a atuar muitas vezes em âmbitos bilaterais, ela foca a sua atuação na aproximação bilateral com os países. Tendo uma dimensão Brics, ela pode se aproximar e fica com outra perspectiva, e isso enriquece, e nós temos tido todas as indicações dos nossos interlocutores chineses que apreciam muito a parceria do Brics e fazem de tudo para fortalecê-la.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Vamos agora contar com mais participações aqui no programa Brasil em Pauta. De Campo Grande, no Mato Grosso do Sul fala Artur Mário, da Rádio Cultura 680 AM. Bom dia, Artur.

REPÓRTER ARTUR MÁRIO (Rádio Cultura 680 AM/Campo Grande - MS): Bom dia. A pergunta ao embaixador Flávio Soares: Quando entra em operação de fato o banco dos Brics? Já que o FMI e o banco mundial são verdadeiros monopólios e controlados pelos Estados Unidos, há muito mais política do que realmente a praticidade que os países necessitam em relação a situações que cada país vive e quando necessita, principalmente, do banco mundial e do FMI.

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Bom dia, Artur. O banco deverá entrar em funcionamento, eu estimo em um prazo de um a dois anos, dependendo do processo de aprovação legislativa. Mas você pensar aqui no próprio caso brasileiro, se nós tivermos a assinatura do acordo agora, no dia 15 de junho, provavelmente nós vamos ter uma situação em que o nosso Congresso até o final do ano vai estar com a sua agenda muito tomada pelo próprio processo eleitoral. Então, nós começaríamos a tramitação desse processo aqui no Brasil em 2015, e, enfim, com otimismo, talvez ao final do ano tenhamos isso, enfim, o acordo aprovado, e também os créditos para a concretização do capital do banco. Em outros países é difícil prever, enfim, qual seria o tramite legislativo, então, eu acho que esse horizonte que eu tracei a você, de um a dois anos, é relativamente, enfim, passível de ser alcançado. Nesse período, você vai ter todo o desenvolvimento das políticas que o banco adotará, então, enfim, esse prazo prudencial de você não ter que trabalhar no dia seguinte, abrir a janelinha do banco para emprestar talvez até seja bom porque isso é um empreendimento muito complexo, enfim, abrir um banco plurilateral é um empreendimento que requer tempo, cuidado, cautela, porque afinal, enfim, o capital do banco é constituído por recursos que vêm dos contribuintes de cada um dos países e ninguém quer colocar, enfim, bom dinheiro em causa má. Então tudo isso tem que ser tratado com a maior atenção, com maior critério e essa é a intenção. Obviamente, enfim, na criação desses dois instrumentos há uma percepção crítica dos nossos países a respeito de determinadas políticas desses bancos, tanto do banco, quanto do fundo monetário, mas isso não significa também que deixemos deles de participar, eles desempenham um papel importante e não convém que nós coloquemos esses dois novos instrumentos como tipo das alternativas, eles são complementares, eles são um aperfeiçoamento do sistema. O que podemos desprender do ponto de vista político da nossa intenção de criar esses instrumentos é de que, enfim, talvez tenha sido alcançado o limite do que nós possamos fazer em termos de reformas incrementais dessas estruturas, então, em invés de nós ficarmos só reclamando, dizendo: "Ah, deveria ser mais isso, nós deveríamos ter mais participação", nós também podemos fazer bem, igualmente bem, enfim, e com os nossos próprios recursos, é uma medida da autoconfiança que nós temos da pujança das nossas economias.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Artur Mário, da Rádio Cultura de Campo Grande, alguma outra pergunta?

REPÓRTER ARTUR MÁRIO (Rádio Cultura 680 AM/Campo Grande - MS): A questão do lastreamento e a parte que o governo brasileiro colocará em recursos, e de que fontes seriam os recursos para formar o lastro financeiro para a existência do banco dos Brics?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Pois é, como eu haveria indicado anteriormente, o capital inicial do banco é US$ 100 bilhões, o capital autorizado, com que o banco vai ser lançado é de US$ 50 bilhões; US$ 40 bilhões desses recursos vão ser garantias que os governos vão ser oferecer, ou seja, nada disso significa dinheiro vivo. E o capital integralizado inicialmente será de US$ 10 bilhões de dólares a ser dividido entre os cotistas. Os recursos que vão constituir esse banco são recursos fiscais, eles vão ter que ser necessariamente aprovados pelo Parlamento, então, obviamente, os nossos representantes no Congresso é que vão fazer a avaliação da pertinência desse investimento por parte do Brasil.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Artur Mário, alguma outra pergunta?

REPÓRTER ARTUR MÁRIO (Rádio Cultura 680 AM/Campo Grande - MS): Muitíssimo obrigado. Abraço, embaixador.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Agradecemos a sua participação aqui programa Brasil em Pauta. Embaixador Flávio Damico, qual é a participação dos Brics nas exportações mundiais?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Nós tivemos um grande salto na participação dos Brics nas exportações mundiais a partir de 2001, que é o ano que a China adere à OMC. Naquele momento, se você somasse os cinco, nós chegaríamos a cerca de 8% de todas as exportações mundiais, hoje em dia esse número dobrou, esse número chega a mais de 17% das exportações mundiais, isso, enfim, digamos do ponto de vista agregado. Se você olhar do ponto de vista setorial, nós vamos ver um cenário ainda mais relevante da participação dos Brics, por exemplo, na área de bens manufaturados esse percentual já passa dos 20%. Obviamente, o peso chinês aí se faz sentir de modo bastante preponderante. Nós somos também muito importantes na área de exportações de produtos agrícolas, aí o Brasil se destaca, e igualmente nas exportações de produtos, combustíveis e minerais nos quais, enfim, também tanto o Brasil quanto a África do Sul e como a Rússia, são importantes atores.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: E do ponto de vista da sustentabilidade, tema superatual, e que o senhor fez referência, que é uma das dos pontos mais importantes do Brics, podemos dizer que estamos capitaneando esse movimento, o Brasil e o Brics?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Ah, com certeza. Enfim, a relevância do tema da sustentabilidade no cenário internacional é muito grande e os Brics são parceiros importantes. O Brasil, enfim, por tudo que tem feito em termos de controle do desmatamento, da melhoraria das suas práticas agrícolas tem oferecido uma contribuição inestimável. Em outra área que nós também podemos citar, as políticas que vêm sido desenvolvidas na China com respeito à despoluição são muito importantes, nós temos feito um esforço muito grande de substituição da sua matriz enérgica que é muito suja, de carvão, por gás natural, e também um grande desenvolvimento na área das energias, fonte de energia alternativa, como energia solar, enfim, a China é muito importante produtor de painéis solares. Isso basicamente decorre do fato de que a dimensão do problema ambiental naquele país alcançou tal monta que se tornou, enfim, uma prioridade política, e nós estamos aí preparados para ver novamente a China fazer enorme um esforço nessa área. A índia, enfim, tem obviamente também problemas muito sérios, também depende muito do carvão, e também pelo fato de ser um país, enfim, relativamente mais pobre torna esse processo um pouquinho mais difícil.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: O senhor falou que a participação dos Brics nas exportações mundiais dobraram, não é? Isso é um indicativo de que o Brics não continuará, a despeito da reação do norte rico e desenvolvido, o Brics não continuará a ter mesmo peso na economia internacional, não é?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Eu acho que pelo contrário, eu acho que o Brics vai ter o seu peso na economia mundial muito aumentado. Enfim, eu acho que há uma certa, eu diria uma incompreensão proposital ou não, a respeito, enfim, de qual é a situação dos Brics. Porque, enfim, por vezes você vê na imprensa internacional, "Ah, as economias dos Brics estão caindo, eles já não existem mais, eles não são mais relevantes", isso, enfim, é uma muito má interpretação dos dados e obviamente uma extrapolação automática de tendências de curtíssimo prazo que não necessariamente se perpetuarão no futuro. Se você olhar, enfim, na página do Fundo Monetário Internacional e olhar os gráficos que ali mostram, eles demonstrar muito claramente uma enorme sincronia no movimento das economias emergentes e das economias desenvolvidas, e com as economias emergentes com taxas de crescimento significativamente maiores que as economias avançadas. Qual é o resultado disso? Se você tem taxas diferenciais de crescimento, no longo prazo você vai ter, enfim, a curva dos PIBs cruzando, ou seja, a maior participação dos países desenvolvidos no PIB mundial vai cair em detrimento da participação dos Brics, e eu não dúvida nenhuma que estamos nessa direção. Nos próximos anos você vai ver o PIB corrente dos Brics se aproximando muito do PIB das economias avançadas, e no conceito da paridade do poder de compra, já ultrapassaram os países desenvolvidos.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Agora temos mais participações aqui no programa Brasil em Pauta. De Fortaleza, Rádio Verdes Mares e de lá fala Alex Mineiro. Alô, Alex, bom dia.

REPÓRTER ALEX MINEIRO (Rádio Verdes Mares/Fortaleza - CE): Bom dia, Luciano Seixas. Bom dia, embaixador Flávio Soares Damico. Embaixador, o investimento para receber a reunião de Cúpula do Brics está com o custo estimado em R$ 6 milhões e [ininteligível] reais, o montante incluiu despesas com hospedagem, transporte das autoridades de infraestrutura, de acordo com o que consta em edital divulgado pelo Itamaraty. Do ponto de vista do senhor, o evento pode trazer bons dividendos à economia e de repente o investimento para a realização do evento não deve ser uma preocupação?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Não. Eu acho que não. Acho que, enfim, e essa é uma das razões pelas quais nós elegemos Fortaleza como a sede dessa reunião, no sentido de você poder mostrar outras cidades do Brasil, não trazer apenas os líderes para as capitais, enfim, conhecer o enorme potencial turístico dessa cidade, o que vamos aportar em temos de negócios, de interesse e também de fazer uso de um magnífico centro de eventos da mais moderna geração, talvez o mais bem acabado aqui do Brasil, que vai ser foco de novas conferências internacionais uma vez sendo o mais conhecido, e justamente esse é o papel. Eu não... Eu tenderia a não achar relevante esse tipo de preocupação, enfim, muito pequena, em relação ao aporte global que está sendo feito, nós estamos falando aqui de um fundo de US$ 100 bilhões, nós estamos falando de um banco de US$ 50 bilhões e gastos que são absolutamente justificáveis e que estão em linha com o que é prática internacional. As pessoas talvez não estejam muito acostumadas como são as relações internacionais, existe um princípio que rege o relacionamento entre os estados, que é o da reciprocidade, quando nós vamos ao exterior, a Presidenta, as suas comitivas vão participar de uma reunião dos Brics, ela recebe exatamente o mesmo tratamento que nós vamos estender aos líderes estrangeiros, enfim, mais do que uma questão de cortesia, é uma questão de educação.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Alex Mineiro, alguma outra pergunta?

REPÓRTER ALEX MINEIRO (Rádio Verdes Mares/Fortaleza - CE): Sim, Luciano Seixas. Embaixador, com a Copa do Mundo e a Cúpula do Brics, esse é um bom momento para começar a apresentar uma nova imagem do Brasil para o mundo?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Nova imagem se nós tivéssemos uma má imagem. Nossa imagem é excelente. O Brasil já é bem-visto internacionalmente por várias razões. Obviamente, quando você tem... você sedia grandes eventos internacionais, você tem uma maior atenção da imprensa mundial, eles conhecem melhor o nosso país, vêm melhor as nossas potencialidades, mas eu não creio, enfim, nós tenhamos nada que possa ser melhorado em relação a nossa imagem, a nossa imagem já é excelente. Agora, obviamente, o maior conhecimento dela sempre vai reverter, enfim, em retornos, em visitas, em interesse acrescido pelo país. Então, eu diria que é mais desconhecimento do que melhoraria de imagem.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Rádio Verde Mares, de Fortaleza, Alex Mineiro, alguma outra pergunta?

REPÓRTER ALEX MINEIRO (Rádio Verdes Mares/Fortaleza - CE): Não, não. Obrigado. Satisfeito.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Nós agradecemos a sua participação aqui no programa Brasil em Pauta. Hoje, com o embaixador Flávio Damico. Embaixador, além das áreas política e econômica que a gente falou aqui, o Brics também tem iniciativas na área de saúde, ciência e tecnologia. No que essas ações podem ajudar a população na prática?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Ah, com certeza, enfim, qualquer atividade que se venha a desenvolver na área de ciência, tecnologia e inovação que possa chegar ao mercado e melhorar a vida das pessoas terá esse impacto. Nesse memorando de entendimento que vamos assinar uma série de ações concretas será desenvolvida, voltada ao desenvolvimento de projetos que tenham impacto na vida das pessoas. Na área de saúde, por exemplo, eu citaria uma rede de informação tecnológica dos Brics, na qual nós poderíamos desenvolver medicamentos para doenças negligenciadas. Então, são áreas que tem um impacto muito importante para as populações mais carenciadas.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Bom, e a margem da Cúpula do Brics há também um foro acadêmico, que neste ano se reuniu em marco, no Rio. Como esse foro se insere na iniciativa dos Brics de forma mais geral, embaixador?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Obrigado por essa pergunta, Luciano. Como eu já disse anteriormente em uma das perguntas, o esforço do Brics não se limita a ações intergovernamentais, é importante que as pessoas se conheçam. Então, nós começamos por duas áreas, a primeira área, foro empresarial que eu já mencionei aqui, a segunda é o foro acadêmico. Por que um foro acadêmico é importante? Porque justamente é essencial que desenvolvamos um pensamento do Brics sobre o Brics, que não tenhamos, enfim, que passar por outros centros, que são, enfim, independentemente da importância e da relevância desses centros, eles também em alguma medida refletem interessantes, então seria importante que os nossos acadêmicos dos cinco países pudessem desenvolver isso. Então, nós também estamos já na quinta edição do foro acadêmico, ele também foi uma iniciativa brasileira criada em 2010 e que pegou bem, se realizou. Já se realizaram outras edições e agora tivemos em março desse ano, no Rio de Janeiro, mais uma edição na qual em dez mesas de... Tratando de diferentes temas sobre o tema geral do crescimento inclusive soluções sustentáveis. Então tivemos um debate muito rico, muito interessante que vai resultar em uma publicação resumindo os principais trabalhados apresentados e, com isso, levar adiante esse processo de reflexão, isso vai ter impacto nas universidades, as pessoas vão conhecer melhor o que os acadêmicos dos Brics pensam sobre a evolução do grupo.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Falamos sobre sustentabilidade, falar um pouquinho sobre essa questão do crescimento inclusivo. Na questão da sustentabilidade, perguntei ao senhor se estávamos na vanguarda, na ponta dessa lança. Na de crescimento inclusivo eu acho que é mais fácil, não é?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Em termos de políticas públicas, sim. Sim. As nossas políticas públicas são aquelas, dentro dos países dos Brics, as que tiveram maior impacto, mas obviamente isso tem um efeito demonstração relevante para os demais países dos Brics, os sul-africanos e indianos têm recorrido a esquemas, enfim, que são de alguma maneira inspirados nos nossos. Obviamente, se você olhar grandes números, aí no caso da China ninguém pode combatê-los, mas aí é um outro modelo, é um modelo, enfim, que você tem um crescimento econômico muito rápido com uma transferência de populações do campo para a cidade. Então essas pessoas viviam sem renda monetizada, eles não ganhavam salários, eles vivam praticamente de subsistência, ao serem transferidos para a cidade passam a ganhar salários, passam a ser parte da economia formal e aí com isso os números são realmente impressionantes, enfim, em um período de dez anos, 400 milhões de pessoas saindo do campo para as cidades, aí realmente é um impacto, enfim, de monta.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Perfeito. Bom, estamos aí às vésperas então dessa VI Cúpula do Brics e me parece que há até o que se comemorar em termos de avanço, não é isso, embaixador?

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Eu não tenho dúvida nenhuma. Talvez valha a pena eu explicitar um pouco melhor qual é nosso cronograma de trabalho, tá?

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Pois não.

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: No dia 14, nós teremos uma série de reuniões preparatórias em Fortaleza, teremos a reunião dos ministros responsáveis pelo comércio e também a reunião dos ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central. Nessa reunião dos ministros da Fazenda, nós vamos finalizar o acordo, essa é a nossa expectativa. Além disso, no próprio dia 14, teremos ainda a reunião do foro empresarial dos Brics, como eu já havia comentado, será a oportunidade dos empresários dos cinco países discutirem oportunidades de negócio e investimentos, inclusive com a realização de uma rodada de negócios, em que os empresários se sentam e buscam criar novas iniciativas que vão resultar em negócio. Como você sabe muito bem, e ainda com todo o avanço dos meios eletrônicos de comunicação, não existe nada mais efetivo para a realização de negócio do que os encontros das pessoas face a face. Além disso, o Conselho Empresarial do Brics se reunirá, ele tem cinco grupos de trabalho que apresentará recomendações aos líderes sobre maneiras de aprofundar e diversificar o intercâmbio no âmbito dos países dos Brics. Isso é uma coisa que tem um impacto importante, inclusive para nós, no Brasil, uma vez que ainda que o comércio entre os Brics tenha crescido dez vezes desde 2001, ele tende a seguir canais já mais ou menos pré-estabelecidos. Enfim, o Brasil exporta produtos agrícolas e minério de ferro, a Rússia exporta petróleo e gás natural, e a China exporta manufaturados, então esses são os mecanismos mais conhecidos, os canais já mais fáceis e bem trilhados. O nosso interessante é justamente fazer com o que Brasil venda mais manufaturados, produtos de maior valor agregado e os outros países do Brics também comungam dessa ideia, então, nós vamos tratar de desenvolver alternativas práticas e simples que possam nos empurrar nessa direção. No dia 15, nós vamos ter a reunião dos líderes propriamente dita, ela começa no final da manhã com uma reunião fechada, em que eles vão discutir aspectos políticos e econômicos. Na parte política, eles vão centrar na situação da governança internacional e discutirão, enfim, situações regionais que estejam merecendo atenção da comunidade internacional. E na parte econômica financeira, eles discutirão a situação econômica financeira atual do mundo, a sua coordenação no âmbito do G20, algum aspecto pendente que possa ainda existir relativa à criação desses dois novos instrumentos, o banco e o arranjo contingente de reservas, e também as perspectivas do tema do desenvolvimento sustentável. Terminado isso, haverá um almoço de trabalho e eles passarão ao salão plenário, ocasião em que serão assinados acordos, esses dois acordos que eu mencionei, além de outros que estão sendo finalizados, e terão oportunidade de fazer uma declaração à imprensa na qual vão tratar do tema da Cúpula, que é crescimento inclusivo, soluções sustentáveis. Terminado isso, teremos um evento cultural, e visitarão também uma exposição empresarial que estará montada no Centro de Eventos do Ceará. Terminado esse dia, eles regressam à Brasília para, no dia 16, realizarem um encontro com os líderes sul-americanos. Esse encontro faz parte da estratégia de interação, de engajamento externo dos Brics com os países em desenvolvimento. Então, nessa ocasião, nós vamos ouvir as perspectivas dos 11 países sul-americanos, além do Brasil, sobre o mesmo tema da Cúpula: Crescimento inclusão, soluções sustentáveis, para ver o que a região tem feito nesse particular.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Embaixador Flávio Damico, agradeço muitíssimo a sua presença aqui no programa Brasil em Pauta.

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Muito obrigado. Foi uma grande satisfação ter podido explicar para o público, enfim, o que são esses grandes eventos que nos guardam aqui no Brasil, na esteira da Copa do Mundo.

APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Até a próxima oportunidade.

EMBAIXADOR FLÁVIO SOARES DAMICO: Muito obrigado.



APRESENTADOR LUCIANO SEIXAS: Nós estamos encerrando neste momento mais uma edição do programa Brasil em Pauta, que tem a produção e a coordenação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em parceria com a EBC Serviços. Eu sou o Luciano Seixas, nos encontramos numa próxima oportunidade. Até lá.