APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Olá, amigos em todo o Brasil. Eu sou Kátia Sartório e começa, agora, mais uma edição do programa Bom dia, Ministro. O programa tem a coordenação e a produção da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com a EBC Serviços. Hoje, aqui, nos estúdios da EBC Serviços, a Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes. Bom dia, Ministra.
MINISTRA IRINY LOPES: Bom dia, Kátia. Bom dia a todos que estão nos ouvindo e assistindo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Seja bem-vinda ao programa, Ministra.
MINISTRA IRINY LOPES: Muito obrigada.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Na pauta do programa de hoje, a reforma política e a representação feminina, o Plano Plurianual 2008-2011 e a 3ª Conferência de Políticas para as Mulheres. A Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres já está aqui, no estúdio, e começa, agora, a conversar com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. Ministra, já está na linha a Rádio MEC 800 AM, do Rio de Janeiro, onde está Denise Viola. Bom dia, Denise. Denise? Daqui a pouco a gente tenta, de novo, falar com a Rádio MEC 800 AM, do Rio de Janeiro. Ministra, enquanto isso, eu gostaria de conversar um pouquinho com a senhora, justamente sobre esse tema, a política e a representação feminina, essa reforma que está sendo feita e qual é o papel da sua Secretaria nesse processo.
MINISTRA IRINY LOPES: Bom, em primeiro lugar, a gente torce e trabalha, ajuda, articula, para que, efetivamente, a reforma política possa sair, possa ser votada este ano, porque é uma reforma fundamental para a modernização e a democratização do país. O papel da nossa Secretaria é discutir com o Congresso, discutir com os movimentos, discutir com a sociedade, de uma forma geral, a importância de ampliarmos a presença das mulheres na política brasileira. Nós temos um fato, eu acho que será determinante na história do país, a primeira eleição de uma mulher para a Presidência da República, a nossa presidenta Dilma Rousseff. Isso é um marco que demonstra que há uma condição real de superação do preconceito e da intolerância que ainda existe contra as mulheres, na sociedade brasileira. Mas, o fato da presidenta ter sido eleita, por si só, não ampliou, não criou um efeito cascata que ampliasse a presença das mulheres nos governos de estado, nas eleições de 2010, na Câmara Federal, no Senado e nas Assembleias Legislativas. Então, assim, o que é que nós queremos discutir? Nós queremos garantia de que teremos uma ampliação de cadeiras destinadas às mulheres. Nós defendemos a lista fechada, defendemos...
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: O que é a lista fechada, Ministra?
MINISTRA IRINY LOPES: A lista fechada é... O partido fará a escolha da composição da sua lista e apresentará aquela lista ao eleitorado. E o eleitor escolherá se a proposta do partido lhe convém ou não, se ele está de acordo ou não, porque isso torna mais clara a presença dos partidos no Brasil, o seu papel, a sua plataforma, a disputa dos rumos da sociedade. E, dentro dessa lista, nós defendemos a alternância. Eu acho que nós temos que ser ousadas, nós temos que propor e discutir com os partidos políticos e os parlamentares. Acho que nós devemos, para superar a diferença que existe hoje, nós devemos propor uma mulher e um homem, uma mulher e um homem, uma mulher e um homem. Isso nos daria condições de ampliar a presença das mulheres, porque hoje... Eu vou citar um exemplo da casa que eu faço parte, eu sou deputada federal: nós temos apenas 8,8% de parlamentares. Então, assim, esta reforma, para nós, mulheres, ela é fundamental, no sentido de que a gente possa crescer na presença, nos postos de comando e nos postos de decisão do país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É, dos 513 deputados, só 44 são mulheres, não é isso?
MINISTRA IRINY LOPES: Só.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É um número muito pequeno.
MINISTRA IRINY LOPES: É totalmente distorcido do que é a realidade e da composição da sociedade. Nós somos 52% da população e somos 51% do eleitorado. Então, assim, tem alguma coisa que está errada na democracia brasileira. Então, no que diz respeito às mulheres, essa é a posição que nós temos discutido no Brasil todo.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório, e a Ministra Iriny Lopes está com a gente, hoje. Ela é da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Ela participa desse programa, que é multimídia – estamos ao vivo, no rádio e na televisão. Ministra, vamos, novamente, tentar falar com a Rádio MEC 800 AM, do Rio de Janeiro. Denise Viola, bom dia.
REPÓRTER DENISE VIOLA (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro – RJ): Bom dia, Kátia Sartório. Muito bom dia, Ministra Iriny Lopes e a todos os ouvintes e internautas que acompanham esse programa.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: É verdade, estamos na internet, também. Você pode fazer a pergunta.
REPÓRTER DENISE VIOLA (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro – RJ): Kátia Sartório, a pergunta que eu faço para a Ministra Iriny Lopes é em relação à Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, porque nós já estamos na contagem regressiva, não é? Começa agora, na semana que vem, no dia 1º de junho, começam as etapas municipais, depois as estaduais, as regionais, até chegar à nacional, em Brasília, da 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Ministra Iriny Lopes, eu gostaria que a senhora... Eu sei que é uma longa estrada e que são muitas informações, mas o que a senhora destacaria, ao longo dessas duas conferências que aconteceram e, agora, no processo de construção da 3ª Conferência, como grandes avanços para as mulheres?
MINISTRA IRINY LOPES: Eu acho que o destaque, Denise, é o fato de que as duas conferências anteriores, elas produziram... Pela primeira vez, no país, elas produziram um Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Isso faz uma diferença muito grande, porque foi um plano baseado e assentado num debate que envolveu milhares de mulheres; as mulheres que participaram das etapas municipais, as mulheres que participaram das etapas estaduais e, depois, as mulheres que ali foram escolhidas para serem as delegadas nacionais da conferência. É bom lembrar que a última conferência foi realizada com a presença de mais de 3.300 delegadas. Isso é muito significativo. Então, assim, nós temos os eixos, que foram os eixos temáticos, e esses eixos temáticos orientam toda a política dirigida às mulheres. Então, nós temos uma ampliação do Pacto de Enfrentamento à Violência Praticada Contra a Mulher, que é algo muito significativo no Brasil; a cada dois minutos, quatro vítimas. Isso é um dado muito relevante. E nós temos, hoje, uma política, e uma política que é reconhecida internacionalmente e é uma política que tem resultado, tem eficácia, se as parcerias entre governo federal, os governos estaduais, os governos municipais, Ministério Público e a presença do Judiciário se fizerem, efetivamente, presentes. Então, nós temos como reduzir esses índices de violência e enfrentar definitivamente esta questão dos homicídios praticados contra as mulheres. Nós temos o eixo da autonomia. As mulheres precisam ampliar a sua presença qualitativamente no mundo do trabalho. Então, assim, ampliação de postos de trabalho, das mulheres avançando para áreas onde, até então, foram consideradas majoritariamente masculinas, ampliação de um número de postos de trabalhos, a ligação e a responsabilidade das grandes obras públicas, como as obras do PAC, também se preocuparem em garantir a presença das mulheres. Então, assim, são... Essas são questões que eu acho fundamentais nas conferências anteriores e, certamente, esta conferência fará um balanço da aplicação do plano decidido na 2ª Conferência. E o que mais nos interessa na 3ª Conferência é que a gente não disperse, que a gente tenha um foco, para que o resultado da próxima conferência possa nos indicar um crescimento das políticas e de atendimento às mulheres brasileiras.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Denise.
REPÓRTER DENISE VIOLA (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro – RJ): Obrigada, Ministra. Kátia Sartório, se fosse possível, eu gostaria de fazer mais uma pergunta.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Pois não, pode fazer.
REPÓRTER DENISE VIOLA (Rádio MEC 800 AM / Rio de Janeiro – RJ): Porque a Ministra destaca os eixos a serem trabalhados nessa conferência. E na 2ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, houve um eixo dedicado à questão da comunicação e cultura. E esse é um ano bastante estratégico, porque quando a gente fala de empoderamento, quando a gente fala de visibilidade, de avanços e tudo mais, a comunicação tem um papel muito importante. E, ao longo desse ano, existe a previsão da construção de um marco regulatório, um conjunto de regras para a comunicação no Brasil. A comunicação e as mulheres estão entre as pautas prioritárias da 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, Ministra Iriny Lopes?
MINISTRA IRINY LOPES: Olha, mulher e mídia, mulher e comunicação, seja lá como tenha um nome do eixo, é sempre bastante presente, porque nós precisamos ter uma política de valorização das mulheres. Isso passa por diversos aspectos. Passa pelo debate que as mulheres brasileiras já fazem há muito tempo, do uso da sua imagem ligada à questão publicitária, e a valorização das mulheres e a mudança dessa lógica de enxergar as mulheres como um objeto que ajuda a vender produtos. A questão do respeito, a forma de divulgação de direitos, a partir da comunicação. A imagem das mulheres como imagem de seres humanos, pessoas completas nos seus direitos, portanto, capazes de cumprirem qualquer papel dentro da sociedade, capazes de se desenvolverem profissionalmente em qualquer área. Então, assim, há muitos aspectos para um debate dessa questão. Além da conferência, nós temos recebido o convite de diversas universidades para que a gente possa fazer esses debates com os estudantes e com os docentes, porque tem uma preocupação verdadeira, no Brasil, da necessidade de que a gente avance, também, nesse setor.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Esse é o programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório e a nossa convidada de hoje é a Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ela conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país, neste programa que é multimídia, estamos no rádio e na televisão. Lembrando às emissoras de rádio que o sinal dessa entrevista está no satélite, no mesmo canal da Voz do Brasil. Ministra, vamos, agora, a São Paulo, conversar com a Rádio Bandeirantes. Leandro Manço, bom dia.
REPÓRTER LEANDRO MANÇO (Rádio Bandeirantes / São Paulo – SP): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra. Ministra, eu queria que a senhora falasse um pouco de uma parte do problema que atinge as mulheres brasileiras, que é o atendimento a essa mulher, o atendimento policial a essa mulher que, eventualmente, é agredida no ambiente familiar ou, enfim, no ambiente corporativo. A gente, infelizmente, recebe relatos de mulheres que procuram delegacias de polícia, até as delegacias voltadas à mulher, as delegacias da mulher, e que continuam desprotegidas, se sentem desprotegidas e, eventualmente, sofrem, de novo, violência. Como é que a gente pode trabalhar esse atendimento inicial, esse primeiro atendimento de uma mulher que relata ser vítima de violência? Como é que é o trabalho com os governos estaduais, com as polícias nos estados, Ministra? Bom dia.
MINISTRA IRINY LOPES: Bom dia, Leandro. Essa questão, você tem razão no diagnóstico que apresenta. Nós temos denúncias pelo Brasil afora de incompreensão, intolerância no ato do recebimento das vítimas de violência nas delegacias especializadas ou não, quando delegacias comuns, que nem todas as regiões, ainda, têm delegacias especializadas. Isso demonstra um despreparo do profissional para o recebimento daquela vítima que tem toda uma particularidade, porque as mulheres, quando... Elas são agredidas, normalmente, no âmbito doméstico, portanto, elas estão extremamente vulneráveis, elas estão extremamente machucadas, não só fisicamente, mas elas estão emocionalmente atingidas quando tomam a iniciativa de procurar uma delegacia... E a identificação é que nós precisamos fazer uma qualificação mais adequada desses profissionais. Nós não podemos fazer isso sozinhos, nós temos conversado, isso já foi objeto de diversas reuniões entre nós e o Ministério da Justiça. E nós temos discutido isso com os governadores, porque faz parte do Pacto de Enfrentamento à Violência que, hoje, todos os estados brasileiros já assinaram. O último que faltava era o Rio Grande do Sul, coisa que o fez há cerca de 30 dias atrás, de que é preciso fazer investimentos nos profissionais de segurança, para fazerem um tratamento adequado àquela vítima, porque tem mulheres que sofrem a violência em casa e, depois, sofrem a violência moral dentro das próprias delegacias, com piadinhas, com afirmações inadequadas. Então, esses profissionais só podem melhorar a sua capacidade se tiver um investimento na sua qualificação. Nós temos preparados esses cursos de qualificação, e o que precisa é que os governos de estado e dos principais municípios possam, efetivamente, se conscientizar da necessidade dessa qualificação e, junto conosco, ampliarmos a parceria que já existe, para garantir que esta postura seja superada.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Leandro, você tem outra pergunta?
REPÓRTER LEANDRO MANÇO (Rádio Bandeirantes / São Paulo – SP): Eu queria que a senhora falasse um pouco da legislação e eu queria uma opinião sua sobre a possibilidade de aperfeiçoamento nas leis que defendem a mulher ou se essas leis são suficientes, hoje, e mais a prática é que se faz necessária, nesse momento?
MINISTRA IRINY LOPES: Olha, Leandro, eu fui relatora da Lei Maria da Penha, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, e eu não tenho o menor receio de dizer a você que a Lei Maria da Penha não precisa de reparo nenhum. Pelo contrário, até pelo perfil bastante conservador do Congresso brasileiro, hoje, eu acho que poderemos perder direitos e recuar, ao invés de avançarmos. O que falta é o cumprimento da Lei Maria da Penha, o respeito e o cumprimento da Lei Maria da Penha, porque, no Brasil, tem umas coisas inexplicáveis. No Brasil, às vezes, lei é igual gripe, pega ou não pega. Não pode existir uma coisa dessa natureza. Lei é lei, ela precisa ser cumprida. Então, assim, nós estamos na expectativa de que, para os próximos dias, o Supremo Tribunal Federal possa pautar as duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade a respeito do debate que se trava em torno dos arts. 16 e 41 da Lei Maria da Penha e, com isso, superarmos de vez esse debate interno, dentro do Judiciário, para que as instâncias inferiores se referenciem na decisão do Supremo que, acreditamos, será da confirmação da constitucionalidade da lei. Então, não vai ter um juiz que acha uma coisa, outro juiz que acha outra. Vai ter uma interpretação única, dentro do Judiciário, e quem vai ganhar com isso são as mulheres brasileiras, porque elas terão respeitados os seus direitos. E a Lei Maria da Penha é mais que uma punição para agressores. A Lei Maria da Penha, ela é um instrumento que determina, aos entes federados, determina aos poderes constituídos brasileiros, medidas preventivas em relação à violência praticada contra a mulher, medidas punitivas, medidas protetivas. Então, assim, é uma lei muito completa. E é uma lei que tem amparo, não só pela decisão do legislador, mas ela é uma lei que tem acolhida na população brasileira. É a lei mais conhecida da história do Brasil. Mais de 83% da população brasileira sabe que a lei existe e gosta da lei. A lei é olhada com respeito por parte da população. Então, agora, ao Judiciário decidir esta questão, nós teremos mais força para o diálogo junto aos governos estaduais, aos governos municipais, as primeiras e segundas instâncias do Judiciário. E, com isso, eu acho que nós teremos como reduzir a violência praticada contra a mulher, que é alta no Brasil... É alta e é estranho porque, ao mesmo tempo que nós temos uma das melhores legislações, em relação a este tema, nós temos um número de vítimas que nos envergonha, interna e externamente. Então... Mas isso não é uma coisa que possa ser resolvida exclusivamente pelo governo federal. Essas mudanças só ocorrerão se tiverem efetiva parceria entre todos, entre os entes federados e os diversos poderes, e se tiver, também, uma participação da sociedade. É preciso que a gente crie, dentro da sociedade, a ideia, e uma nova cultura e uma nova postura de respeito, porque nenhum tipo de violência nós podemos compactuar com ela. Nenhum. Seja contra quem for. Porém, a violência praticada contra a mulher, ela é motivada exclusivamente pelo fato dela ser mulher. Então, isso é uma coisa das cavernas, nós estamos... Nós precisamos mudar esta cultura. As mulheres brasileiras, como as mulheres do mundo todo, merecem respeito. Então, para além das medidas legais, as políticas públicas que temos a responsabilidade e obrigação de desenvolver, e estamos desenvolvendo, nós precisamos contar com a parceria da sociedade na mudança de postura e cultura.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Este é o programa Bom Dia, Ministro, eu sou Kátia Sartório e a nossa convidada de hoje é a Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ela conversa com emissoras de rádio de todo o país. Lembrando que o áudio dessa entrevista vai estar disponibilizado ainda hoje, pela manhã, na página da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, na internet. Anote o endereço: www.imprensa.planalto.gov.br. Ministra, vamos, agora, à Rádio Clube, de Belém do Pará. Nonato Cavalcante, bom dia. Nonato? Daqui a pouco a gente tenta de novo conversar com o Nonato Cavalcante, da Rádio Clube, de Belém do Pará. Vamos, então, conversar com a Rádio Sociedade, de Salvador, na Bahia. Armando Mariani, bom dia.
REPÓRTER ARMANDO MARIANI (Rádio Sociedade / Salvador – BA): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra. O Brasil, nas Américas, está atrás apenas do Panamá em relação à presença da mulher no nosso quadro político, nas Câmaras, Assembleias, etc. Agora, o que a gente sente, Ministra, eu tenho falado aqui, na Rádio Sociedade, é que não há uma vontade realmente dos partidos de chamar a mulher para participar da luta política. Não existe uma forma, um meio para que esses partidos realmente abram as suas portas de verdade para a mulher?
MINISTRA IRINY LOPES: Bom dia, Nonato. A nossa situação... Armando, desculpa. O Nonato não conseguiu chegar até nós ainda. Desculpa, Armando. Nós, a nossa situação é muito ruim neste quesito, porque nós fomos o penúltimo país das Américas em relação à participação das mulheres na política. Então, por isso, a questão da reforma política é tão importante para nós. Se não ocorrer a reforma política, nós precisamos ter um outro instrumento que possa determinar esta ampliação, uma emenda constitucional, alguma coisa que determine aos partidos políticos, porque historicamente, Armando, os partidos são conduzidos pelos homens e a política... A menos de 100 anos atrás, não é, nós conquistamos o direito de voto. Portanto, o direito de ser votadas também. Então, assim, nós temos, os partidos são extremamente machistas, são patriarcais, são majoritariamente masculinos, há partidos que não tem a presença de sequer uma mulher na sua direção. Então, assim...
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Oito, não é? Pelo que eu estou vendo aqui, são oito partidos que não elegeram nenhuma mulher na Câmara dos Deputados.
MINISTRA IRINY LOPES: É muita coisa, isso é muito significativo. Quer dizer, oito partidos que não deram nenhuma oportunidade às suas mulheres. Então, assim, às mulheres que fazem parte destes partidos. Então, não adianta contar apenas com a boa vontade dos partidos, porque já está claro que esta boa vontade não ocorrerá no tempo que nós precisamos. Nós não podemos ficar aguardando. Nós queremos uma legislação que seja cumprida, porque, por exemplo, os 30% obrigatórios de mulheres que a legislação atual já determina, é muito simples, é só fazer as contas de quantas candidaturas femininas tiveram na eleição de 2010, quantas foram eleitas, para a gente ver que os partidos não apresentaram os 30%, efetivamente.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Não existe uma punição, Ministra?
MINISTRA IRINY LOPES: É. A punição não pode ser feita por ninguém além do Poder Judiciário, está certo? Então, assim, as mulheres precisam que o Poder Judiciário brasileiro, o Tribunal Eleitoral, considere para valer esta questão. Eu vou citar um exemplo meu. Eu fui candidata, o ano passado, a Deputada Federal, graças a Deus o meu estado me reconduziu à Câmara, para o terceiro mandato, mas, em 2009, nós fizemos uma mini, mini, mini reforma eleitoral, e nessa mini, mini reforma, estava determinado, Kátia, que as mulheres teriam um tempo diferenciado de televisão. É lei. Eu, quando foi feita a distribuição do tempo, eu perguntei à direção do meu partido, no meu estado, por que é que não estava sendo obedecida e observada aquela determinação. Bom, a coligação, vou falar numa linguagem bastante popular, chiou. Por quê? Então a coligação não aceitou, não encaminhou. Eu me dirigi ao Tribunal Eleitoral e o Tribunal me deu por escrito que o tempo seria igual para todos os candidatos. Então, assim, nós custamos a conseguir algo pequeno na Câmara e no Congresso. E daí para frente nós dependemos do...
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: De uma outra instância.
MINISTRA IRINY LOPES: É, nós precisamos de um outro poder. Então, assim, para citar outro exemplo. Hoje, na Argentina, as mulheres já passaram, já estão perto de 50%. Já passaram dos 40% a sua presença nas cadeiras do Parlamento. E elas começaram com 30%. Hoje é político. Então, assim, tem um mínimo de 30% respeitado e a presença das mulheres, ela foi se ampliando, pela própria caminhada, postura e conquista das mulheres. Então, assim, se nós temos os 30% para valer, pelo tempo que ele já foi instituído, hoje, a nossa situação, se ele fosse respeitado, a nossa situação já seria outra. Então, assim, nós precisamos que a sociedade se posicione em torno desta questão, demonstrando a sua preferência por mulheres, a sua confiança por mulheres na escolha, mulheres com história, mulheres com propostas, mulheres com postura clara a respeito daquilo que interessa ao eleitor reconhecer naquela pessoa que ele quer eleger, mas nós precisamos de igualdade de condições interna nos partidos. Nós precisamos ter as mesmas condições que os homens. Então, isso significa tempo na televisão, isso significa financiamento de campanha. Então... Depois, nós precisamos que o Tribunal Regional e o Tribunal Superior Eleitoral reconheçam e façam valer a legislação aprovada.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Armando, você tem outra pergunta?
REPÓRTER ARMANDO MARIANI (Rádio Sociedade / Salvador – BA): É. Ministra, a presidenta Dilma, pela primeira vez uma mulher no poder máximo. A senhora imagina que, com a Dilma no poder, comandando, isto pode despertar um interesse maior e a mulher exigir a sua participação no quadro político brasileiro?
MINISTRA IRINY LOPES: Eu acho que a presença da nossa presidenta no quadro político brasileiro já faz uma diferença muito grande. Ela cria um outro ambiente de debate em torno das questões relativas aos direitos das mulheres. Então isto já nos propicia outro ambiente. E a nossa presidenta, ela é muito firme nas suas posições. E isso tem provocado essa discussão e isso tem tido já um efeito de mudar a característica do debate em torno desses temas. Então, eu acho extremamente positivo e tenho dito às mulheres brasileiras que esta é uma oportunidade que nós não podemos perder. Agora, nós estamos, nós vivemos num país democrático e republicano. A presidenta não pode determinar. É claro que a sua postura clara e firme em torno dos direitos das mulheres faz essa diferença, mas as mudanças reais são feitas no interior da sociedade, são feitas com o Congresso, são feitas junto com o Judiciário, junto com o Ministério Público, ou seja, as mudanças têm que vir no conjunto, não depende exclusivamente de uma pessoa, porque o nosso regime é democrático, é aberto e é republicano. Todos têm responsabilidade.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Esse é o programa Bom Dia, Ministro. A nossa convidada de hoje é a Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes. Ela conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. Lembrando que a NBR, a TV do governo federal, reapresenta a gravação dessa entrevista ainda hoje à tarde, com horários alternativos também no final de semana. Ministra, vamos agora tentar conversar, mais uma vez, com o Nonato Cavalcante, lá da Rádio Clube, de Belém do Pará. Bom dia, Nonato. Nonato? Daqui a pouco, mais uma vez, a gente tenta o Nonato. Vamos, então, para a Rádio Difusora Acreana, de Rio Branco, no Acre. Jorge Braun, bom dia.
REPÓRTER JORGE BRAUN (Rádio Difusora Acreana / Rio Branco – AC): Bom dia, Kátia Sartório. Bom dia, Ministra Iriny Lopes. É um imenso prazer estar participando desse programa, para a gente discutir exatamente essas questões relacionadas às mulheres.
MINISTRA IRINY LOPES: Bom dia, Jorge.
REPÓRTER JORGE BRAUN (Rádio Difusora Acreana / Rio Branco – AC): A pergunta é a seguinte: nós sabemos que nos últimos anos os números demonstram um aumento nas denúncias, nos processos e nas punições para os vários tipos de violência contra a mulher. A maioria dessas violências é tido como violência física e, às vezes, colocam um fim a um relacionamento de vários anos. Dessa forma, a mulher fica com a guarda dos filhos e assume o papel de chefe de família. De que forma a sua secretaria pensa em trabalhar, ou já está trabalhando, num projeto para a geração de emprego e renda dessas mulheres, que são vítimas de violência, inclusive para que elas, através de um trabalho próprio, na geração de emprego e renda, também aumentem a sua autoestima?
MINISTRA IRINY LOPES: Olha, Jorge, essa questão, ela é bastante séria no país, porque parte considerável do número de mulheres que assumem chefias de família, são mulheres que foram à luta a partir de um fracasso da sua relação, motivada pela violência. E o número de mulheres chefes de família monoparental, mulheres que só elas... Só elas cuidam da família toda, elas não têm companheiros, é significativo, e as pesquisas, tem dados do IPEA, do IBGE, que vão demonstrando esse crescimento. Então, portanto, se pensarmos o Brasil de médio prazo, essa questão passa a ser uma questão muito relevante na construção das políticas públicas. Nós temos discutido e temos já avançado com parcerias com Caixa Econômica, com empresas como Petrobras, agências como o Banco do Brasil, e estamos já com diversos programas evoluídos, quase já maduros para serem anunciados, onde nós criamos linhas de crédito diferenciado para atender a essas mulheres, no sentido de que elas constituam ou coletivamente através de cooperativas e outras formas de organização, ou individualmente, como pequena, micro... Micro, neste caso, microempresas, setor, inclusive, onde as mulheres já são praticamente maioria, nós temos também evoluído no sentido de ampliar as nossas parcerias com o Sebrae, e qualificarmos essas mulheres para o desenvolvimento de atividades econômicas que lhes garantam autonomia e dignidade na condução das suas vidas. Então, além do que, nós temos chamado a atenção das empresas brasileiras para a necessidade de ampliação de contratações de mulheres, investimentos e parcerias na qualificação. Hoje, por exemplo, com as obras do PAC, a presença das mulheres na área da construção civil é bastante diferenciada de cinco, seis, dez anos atrás, não é? Hoje, há uma... E isso dá a essas mulheres uma dignidade que elas não tinham antes e lhes dá uma felicidade. Nós tivemos a oportunidade de conversar, outro dia, com uma trabalhadora da construção civil, em São Bernardo do Campo, que é um exemplo desse tipo de mulher que você citou. Quer dizer, era uma mulher que tinha um casamento, um casamento marcado pela violência, ela e os filhos viviam dominados pelo medo. E, ao fazer o curso e conseguir um emprego, essa mulher conseguiu mudar a vida dela, a vida dos filhos dela. Hoje, ela é uma liderança entre as trabalhadoras da construção civil de São Bernardo do Campo, ela tem um emprego estável. Então, nós estamos trabalhando neste sentido. E buscando, também, incorporar nessas preocupações, não só as mulheres urbanas, porque as mulheres da área do campo e da floresta, estas ainda têm as condições mais vulneráveis ainda do que as mulheres que estão nos grandes centros urbanos. Então, nós estamos trabalhando neste sentido.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, só mais uma atenção da senhora para esse assunto que, para mim, é inédito. Assim, essas parcerias já estão sendo lançadas? Porque a gente sabe de casos isolados. Por exemplo, no Paraná tem um banco que já tem esse crédito para as mulheres. Mas, assim, por parte do governo federal é uma inovação?
MINISTRA IRINY LOPES: É. Nós estamos constituindo já acordos, entendimentos, nós já temos protocolos assinados, e os projetos já estão bastante maduros. Então, assim, eu tenho certeza que, daqui uns dias, nós teremos condições de voltar aqui para falar sobre isso. Estamos à disposição, mas a abrangência é nacional desses programas e é uma linha de crédito exclusiva, não é... Então, assim, nós estamos tratando de políticas para mulheres.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Está certo. Ministra, vamos, agora, conversar com a Rádio BandNews FM, aqui, de Brasília. Rodrigo Orengo, bom dia.
REPÓRTER RODRIGO ORENGO (Rádio BandNews / Brasília – DF): Bom dia, Ministra. Bom dia, Kátia. Ministra, segundo informações, aqui, da Secretaria da Mulher do DF, de Brasília, existe apenas uma casa para abrigar mulheres vítimas de parceiros agressores e a demanda não consegue ser atendida na totalidade, inclusive já há informações de que uma nova casa estaria sendo implementada aqui, no DF. Eu queria lhe perguntar se a senhora sabe sobre essa situação específica, aqui, de Brasília, e também sobre políticas do Ministério, da Secretaria, aqui, para a capital do país.
MINISTRA IRINY LOPES: Rodrigo, esta questão das casas abrigo, elas são um desafio para nós no Brasil todo. Aqui, em Brasília, não é diferente. Nós temos dois tipos de problema. Nós temos, por um lado, algumas regiões que precisam da ampliação das casas abrigos e, para isso, nós precisamos de parcerias com as prefeituras e os governos estaduais e, por outro lado, nós temos, vamos dizer, uma certa ociosidade, coisa que nós aplaudimos, porque não queremos violência praticada contra mulheres, o que nos faz repensar a ideia de que a instalação de casas abrigos, elas devem contemplar uma visão regional, porque tem municípios que fica, o investimento é alto em relação ao número de atendimentos, enquanto em outro lugares está faltando atendimento. Então, nós estamos repensando essa questão para fazer, através dos consórcios regionais, essas casas abrigos, onde isto for uma realidade. Então, nós temos dialogado com a Secretaria de Mulheres do Distrito Federal, nós temos parcerias, nós estamos abrindo editais agora, neste período, então é importante que os governos estaduais e os governos municipais que estão nos ouvindo possam estar atentos aos editais que estão abertos e se credenciarem, através da apresentação dos projetos, para a superação dessa realidade.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, é a nossa convidada de hoje no Bom Dia, Ministro. Vamos, agora, Ministra, conversar com a Rádio 104 FM, de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Joel Silva, bom dia. Joel Silva?
REPÓRTER JOEL SILVA (Rádio 104 FM / Campo Grande – MS): Bom dia, falando aqui, da Rádio MS, direto de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, cumprimentar primeiro a Ministra Iriny Lopes, dizer que a gente está, aqui, pronto para ouvi-la. A pergunta que temos é a seguinte: o que é que a Ministra de políticas públicas acha de estabelecer quotas para as mulheres no Legislativo? A Ministra acha que isso vai auxiliar na inserção da mulher na política?
MINISTRA IRINY LOPES: Joel, bom dia para você. Eu tenho convicção de que é a única forma que nós teremos de fazer uma política afirmativa. Precisamos começar por algum lugar. Então, assim, a ideia das quotas... Hoje, nós temos os 30%, mas nós queremos ver prevalecer o que está na lei. E achamos que se a reforma política não for votada esse ano, nós temos interesse em mobilizar o conjunto das parlamentares, para que a gente possa trabalhar uma emenda constitucional, fruto do debate da bancada feminina no Congresso, que nos dê condições objetivas. Porque o que diz a lei, hoje, é que a obrigatoriedade é de 30% das chapas de candidaturas. As chapas, quem vai disputar. Nós queremos um percentual de cadeiras. Então é bem diferente, não é... Nós não estamos discutindo só a ocupação de espaço nas chapas, nós queremos um número de cadeiras, no Parlamento, destinado às mulheres para que, a partir disso, a gente possa ter um outro patamar de crescimento na participação política no país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, vamos, agora, à Rádio Guarathan, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Marion Bittencourt, bom dia.
REPÓRTER MARION BITTENCOURT (Rádio Guarathan / Santa Maria – RS): Bom dia, Kátia Sartório. Bom dia, Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Marion Bittencourt, jornalista da Rádio Guarathan, de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Ministra, a reforma política, a participação, a representação feminina ainda é baixa no Parlamento e no Congresso, apesar de termos uma presidenta mulher, uma Ministra, como a senhora. O que é preciso para que as mulheres participem mais da política, Ministra?
MINISTRA IRINY LOPES: É preciso que os partidos, viu, Marion, é preciso que os partidos políticos brasileiros cumpram o seu papel no processo de garantia da democracia e da participação de todos. Nós precisamos de legislação e precisamos que os partidos tenham outro papel. Nós ficamos bastante indignadas quando ouvimos dirigentes partidários dizerem: “Ah, as mulheres não querem participar da política, tanto é que nem aparece um número suficiente para completar os 30%”. As mulheres querem e têm competência para participar da política. Agora, as mulheres também não querem fazer número em uma chapa para eleger só os homens. Então, assim, fazer um papel de somar votos para chegar ao quociente eleitoral que garanta a eleição só de homens. Nós queremos entrar em uma chapa onde a gente tenha possibilidade e perspectiva de ser eleita, porque senão não temos estímulo para participar. E isso significa, também, não só alterar e aprofundar a discussão das quotas, mas isso também significa apresentar soluções e ter igualdade de tratamento no financiamento de campanha, que, para nós, é mais difícil. Hoje, que o financiamento de campanha se dá... A legislação prevê a contribuição voluntária de empresas para o financiamento de campanhas, se você vai procurar uma empresa um homem e uma mulher, se o homem ganha quarenta, a mulher ganha quatro. Então, é uma condição muito desfavorável. Então, isso também tem que estar no debate para ser superado. E eu tenho certeza que as mulheres brasileiras têm muita competência, vide como a nossa presidenta está conduzindo muito bem o nosso país.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Esse é o Programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório, e estamos, hoje, com a Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Esse programa é multimídia: estamos, ao vivo, no rádio e na televisão. Ministra, vamos, agora, à Rádio Globo AM, de Governador Valadares, em Minas Gerais. Ronalt Lessa, bom dia.
REPÓRTER RONALT LESSA (Rádio Globo AM / Governador Valadares – MG): Bom dia. Bom dia, Ministra. Ministra, em Governador Valadares, duas mulheres norte-americanas procuraram a Delegacia da Mulher para prestar queixas de violência doméstica. Na semana passada, sabendo desses casos, o cônsul dos Estados Unidos veio do Rio de Janeiro dar assistência às vítimas que moram aqui na cidade. E, no exterior, brasileiras violentadas pelos seus companheiros são tratadas da mesma maneira pelo governo brasileiro?
MINISTRA IRINY LOPES: O governo brasileiro tem atendido todas as mulheres que procuram as nossas embaixadas ou consulados pelo mundo afora. E nós temos tido uma preocupação grande nos fóruns internacionais, em especial da OEA e da ONU, e nos acordos bilaterais que temos, aprofundar a responsabilidade conjunta dos países em torno das mulheres estrangeiras que são vítimas de violência, ou porque casaram com cidadãos daquele país onde ela está morando e ali são vitimizadas pelos seus maridos, pelos seus companheiros, ou porque são mulheres vítimas do tráfico de pessoas, onde a presença da mulher no tráfico de pessoas é majoritária, e acabam tendo um tratamento praticamente de trabalho escravo. Então, a responsabilidade de atender... De localizar, atender e acolher essas mulheres, é do governo brasileiro, no exterior, mas ele não pode fazê-lo sem que as autoridades locais tenham uma participação e tenham uma corresponsabilidade. Então, essa atenção e esse tratamento é dispensado às nossas mulheres no exterior, considerando, inclusive, considerando estas questões.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, agora vamos à Juiz de Fora, também em Minas Gerais, à Rádio Catedral. Rafael Lemos, bom dia.
REPÓRTER RAFAEL LEMOS (Rádio Catedral / Juiz de Fora – MG): Bom dia, Kátia. Bom dia, Ministra. O IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgou, nessa quarta-feira, dados do Cadastro Central de Empregos que apontam que as mulheres, em 2009, receberam 20% menos que os homens. A senhora, Ministra, falou sobre a possibilidade de criação de oportunidades para as mulheres, para fazer com que elas, de fato, participem do mercado de trabalho com qualificação profissional. Mas, mesmo assim, ao que indica essa pesquisa, a mulher, mesmo quando consegue romper essas barreiras, ainda não fica em um patamar de igualdade que o homem. O que fazer para mudar essa situação?
MINISTRA IRINY LOPES: É importante que a imprensa e esse papel que vocês estão cumprindo, Rafael, de dar publicidade a esses resultados, porque ainda perpassa a cabeça da maioria do povo brasileiro que no Brasil não tem intolerância, que no Brasil não tem preconceito, que no Brasil todos são tratados da mesma maneira, coisa que não é real. Então, as mulheres não têm... Hoje, as mulheres têm mais tempo de estudo, têm mais qualificação, são maioria em quem tem alguma especialização ou doutorado, mas nós ainda somos maioria no trabalho informal e quando estamos no mercado formal de trabalho, nós ainda recebemos menos pelo exercício da mesma função ou o mesmo cargo. Então, a superação disso depende de duas coisas, na minha opinião. A primeira delas é que uma conscientização às empresas de que este tratamento é inconstitucional, porque todos são iguais perante a lei, independente de sexo, raça ou religião, como preconiza a nossa Constituição. E, em segundo lugar, nós precisamos de lei infraconstitucional que nos dê... Que dê ao estado brasileiro as condições de fazer uma fiscalização mais rigorosa e uma cobrança amparada por lei. Por isso, a votação do Projeto de Lei 6.355, sobre a igualdade de homens e mulheres no acesso e na ascensão do mercado de trabalho no país possa se transformar em um instrumento que nos dê a retaguarda legal para que a gente possa atuar mais firmemente neste caso.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Esse é o Programa Bom Dia, Ministro. Eu sou Kátia Sartório, e estamos, hoje, com a Ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ela conversa com âncoras de emissoras de rádio de todo o país. Ministra, vamos, agora, à Rádio CBN Foz, de Foz do Iguaçu, no Paraná. Marcos Mantovane, bom dia.
REPÓRTER: MARCOS MANTOVANE (Rádio CBN Foz / Foz do Iguaçu - PR): Bom dia. Bom dia, Ministra. Nós percebemos, aqui na região da tríplice fronteira, que, mesmo com a Lei Maria da Penha, ainda são grandes os registros de violência contra a mulher, principalmente aqui parece que a lei não existe ou não está sendo bem aplicada. O que fazer para que essa lei possa, realmente, ser aplicada e como diminuir esses índices de violência contra a mulher?
MINISTRA IRINY LOPES: Bom, nós estamos trabalhando no fortalecimento da rede de proteção e de enfrentamento à violência. Então é preciso que os governos estaduais e os governos municipais ampliem a prestação de serviço às mulheres e, inclusive, no aspecto preventivo. Então, procurarem, junto ao governo federal, constituírem as parcerias necessárias para que a gente tenha núcleos de atendimento às mulheres, que a gente tenha centro de referência e atendimento às mulheres, que a gente possa ter as delegacias especializadas, as casas-abrigo. E essa é uma função... O governo federal não pode chegar no município e instalar esses equipamentos. Para isso, é necessário esta parceria. Nós acabamos de realizar, essa semana, um fórum de organismo de política para mulheres com cerca de quinhentas gestoras públicas. Mas nós devemos lembrar que nós temos mais de cinco mil municípios no Brasil e só 320 municípios têm mecanismo para mulheres, de política para mulheres. O que significa dizer que nós temos que constituir, em mais de cinco mil municípios brasileiros, estas políticas. Então, isto é um passo decisivo. Em relação ao cumprimento da Lei Maria da Penha, eu já tive a oportunidade de falar aqui hoje, é que nós precisamos que o julgamento no Supremo Tribunal Federal a respeito da constitucionalidade da lei se dê rapidamente, para que a gente possa ver, efetivamente, a lei cumprida.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, a senhora falou, agora, do Fórum Nacional de Organismos Governamentais de Políticas para as Mulheres que terminou ontem, aqui em Brasília. E foi um resumo, saiu um resumo dessas políticas prioritárias para estados e municípios. Esse fórum já é um preparatório para a conferência de dezembro?
MINISTRA IRINY LOPES: Não. Este fórum, é claro que ele contribui muito no processo da conferência, mas ele é um fórum que se reúne anualmente para que a gente possa fazer um balanço, porque as políticas para as mulheres são transversais, Kátia, e são intersetoriais. Na medida em que elas são transversais, nós temos que tomar cuidado, porque a transversalidade pode se transformar em pó, porque a palavra é muito bonita, mas ela precisa de materialidade. Então, para a sua execução, nós temos que ter uma sintonia fina e um trabalho efetivo de parceria entre os diversos entes federados, o governo federal, os governos estaduais e os governos municipais, porque não somos nós que executamos a política. Lá na ponta, quem executa a política são os estados e municípios. Então, o resumo que tivemos, o balanço que tivemos no fórum, certamente, orientará o debate das conferências, mas ele se reúne anualmente, coisa que nós vamos intensificar daqui para frente, porque sabemos que precisamos ter respostas na ponta.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, vamos conversar, agora, com a Rádio Educadora 950 AM, de Sobral, no Ceará, onde está Reinaldo Azevedo. Bom dia, Reinaldo.
REPÓRTER REINALDO AZEVEDO (Rádio Educadora 950 AM / Sobral – CE): Bom dia. Eu gostaria de fazer uma pergunta. A pergunta é a seguinte: qual são as medidas que estão sendo tomadas pelo governo para dar uma melhor qualidade de vida às mulheres? Eu falo em termos de salários. O que o governo está pensando para melhorar o salário das mulheres?
MINISTRA IRINY LOPES: Olha, o governo está trabalhando. Eu aqui, já, hoje, pude falar das nossas iniciativas, Reinaldo, a respeito das políticas voltadas para as mulheres para ampliar a presença das mulheres no mercado de trabalho, para ampliar os postos de trabalho, para que as mulheres possam ocupar diversas funções. Nós estamos trabalhando no Programa Equidade de Gênero, que temos, para que as mulheres tenham tratamento igual no mercado de trabalho. Então, nós não temos condições... Nós precisamos que o Congresso Brasileiro vote, efetivamente, o projeto da Lei de Igualdade, para que a gente tenha instrumentos de fazer fiscalização e cobrança do tratamento desigual que as mulheres recebem no mercado de trabalho. Então, as medidas, nós estamos intensificando as políticas de ampliação da presença das mulheres. Agora, uma fiscalização depende muito mais, neste momento, da aprovação da lei no Congresso do que o desejo do governo federal. O governo federal não pode chegar e fazer o que quiser, na hora que quiser, onde quiser. Ele depende do amparo da lei, e é preciso que a sociedade brasileira cobre, do Congresso, a votação dessa lei, porque nós precisamos dela.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, vamos, agora, conversar com a Rádio Emissora Rural, de Petrolina, em Pernambuco. A pergunta é de Marcelo Damasceno. Bom dia, Marcelo.
REPÓRTER MARCELO DAMASCENO (Rádio Emissora Rural / Petrolina – PE): Muito bom dia. Nós gostaríamos de compartilhar com a Ministra o seguinte. Aqui em Petrolina nós temos 50% da bancada da Câmara de mulheres. A presidente da Câmara aqui é mulher. Mas nós temos uma grande... Assim, o agronegócio é que move a economia aqui. Em Petrolina, Juazeiro, todo esse Vale do São Francisco, nós temos o raleio da uva e da manga e ele é, predominantemente, constituído de mulheres. Mas a mulher nordestina, sobretudo... A brasileira ganha salário abaixo do que deveria ganhar, do que o mercado disponibiliza, e aí a mulher nordestina, então, Ministra, a situação é muito mais complicada. Há uma política pública, hoje, que contemple a mulher, não apenas na representação parlamentar ou na representação política, etc., mas também as mulheres aqui da nossa região, as nordestinas que trabalham na roça, as assalariadas que trabalham em fazendas? Há uma sinalização para um estudo que ampare essa mulher que faz tripla jornada de trabalho: trabalha na roça e chega à noite, trabalha em casa?
MINISTRA IRINY LOPES: Bom dia para você, Marcelo. Nós vamos iniciar, nesta segunda-feira... Segunda e terça-feira nós estaremos realizando um fórum, aqui em Brasília, exclusivamente com mulheres do campo e da floresta, então, portanto, as mulheres que estão no trabalho rural. Se as mulheres recebem menos que os homens, as mulheres negras e as mulheres das regiões Norte e Nordeste do país ainda conseguem receber menos. Então, isso tem sido, sim, objeto das nossas preocupações. Então, nós temos procurado desenvolver, junto com o MDA, programas que possam criar uma rede de proteção a essas mulheres para que elas tenham um tratamento idêntico aos homens, no que tange a salário, às condições de trabalho e a atendimento das suas necessidades. Do que nós podemos fazer dentro da legislação vigente no país, nós temos procurado chegar a todas as mulheres. Volto a dizer, não é objeto da nossa preocupação exclusivamente as mulheres urbanas, porque as mulheres que estão no campo, elas trabalham mais, elas têm um atendimento de saúde diferenciado pelas distâncias, pela dificuldade de locomoção para terem esse atendimento de saúde. Essas mulheres são vitimizadas pela violência e, às vezes, elas não têm nem como abrir a janela e gritar ao vizinho, porque o vizinho mais próximo está a três, quatro quilômetros de distância. Então, nós temos procurado discutir um atendimento mais no local a essas mulheres. Então, nós estamos procurando desenvolver projetos que levem em consideração as particularidades regionais e culturais dessas mulheres.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra, rapidamente, para as mulheres que estão nos ouvindo agora, como elas podem participar desse movimento, conferências, fóruns? Qual é o caminho de quem está lá nos ouvindo agora e que quer também estar incluído nesse projeto que vocês têm de juntar as mulheres para discutir melhores políticas para nós?
MINISTRA IRINY LOPES: Olha, as mulheres precisam procurar os movimentos de mulheres que tem no seu município ou procurar as secretarias que tratam das questões das mulheres no seu município. Eu falo muito no município, porque o município é fundamental, é indispensável e insubstituível nessa rede. Então, se o município não convocar a conferência, a Câmara pode convocar. A Câmara Municipal aí em Petrolina, parabéns, metade das mulheres, presidência da Câmara. Isso é uma exceção, não é regra. Então, parabéns para vocês. E através... E pode acessar a nossa página, quem tem condições de acessar a página da Secretaria de Mulheres, da SPM, e buscar todas as informações para participar e ter conhecimento dos projetos, dos programas e da conferência.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: Ministra Iriny Lopes, muito obrigada por sua participação em nosso programa.
MINISTRA IRINY LOPES: Eu é que agradeço a oportunidade de estar com todos vocês. Muito obrigada.
APRESENTADORA KÁTIA SARTÓRIO: E a todos que participaram conosco, meu muito obrigado e até a próxima edição.